“Não é exagero afirmar que o solo maranhense é uma potencia para o Agronegócio. No Nordeste, o estado é o segundo maior produtor, o primeiro lugar é da Bahia. No Brasil, é o sétimo colocado”. A afirmativa é o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Maranhão (Faema), Raimundo Coelho de Sousa, entidade que mantém os agricultores rurais capacitados e atualizados sobre as novas tecnologias desenvolvidas no campo por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar).
O Senar tem por missão fomentar a educação profissional, assistência técnica e atividades de promoção social, contribuindo para o desenvolvimento da produção sustentável, da competitividade e de avanços sociais no campo. Objetivos que vem sendo alcançados por meio da metodologia de Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) que assiste o pequeno e o médio produtor que não tenham conhecimento suficiente para desenvolver a sua propriedade e nem condições financeiras de “tocar” o empreendimento.
Raimundo Coelho de Sousa concedeu entrevista ao Portal Maranhão Negócios (abaixo) na qual fala sobre as atividades da Federação, cursos e capacitações do Senar, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA, da qual faz parte, e sobre as ações no campo que vem aumentando a produção e a renda dos produtores rurais no Estado.
PMN – Quais atividades destacaria na Federação durante o ano de 2017?
Raimundo Coelho – Como 2017 foi um ano em que o Agronegócio (pequeno, médio e de grande porte) conquistou vários êxitos na área da produção, devo dizer que nós, como uma instituição que apóia o setor, também avançamos em várias frentes, como na formação profissional rural, por meio de cursos de pequena duração que atendem às demandas dos sindicatos dos produtores rurais, das fazendas, instituições do meio rural e das prefeituras. Na promoção social, também tivemos alguns eventos que incluíram a educação ambiental, saúde da mulher, saúde do homem e artesanatos.
PMN – Como surgiu o Senar?
Raimundo Coelho – O Senar foi criado pelo sistema sindical e pela Federação da Agricultura em Brasília. O Serviço de Aprendizagem Rural tem como finalidade a capacitação rural e a promoção social. Hoje, temos avançado em outras áreas de atuação, voltadas para o homem do campo, sendo uma delas a da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) que assiste o pequeno e o médio produtor que não tenham conhecimento suficiente para desenvolver a sua propriedade e nem condições financeiras de “tocar” o empreendimento. E também na educação formal, com a formação de técnicos em agronegócios que são pessoas jovens, cujos pais são agricultores. Esse curso é semelhante ao de técnico agrícola e de agropecuária que conta com um fator a mais que é o gerenciamento da gestão da propriedade. Já formamos 40 técnicos em 2017 que estão atuando em cinco pólos (Imperatriz, Balsas, Pastos Bons, Colinas e Chapadinha). Agora, conseguimos junto ao MEC mais dois pólos que vão funcionar em Caxias e Açailandia.
PMN – Contam com parcerias para a execução desses serviços?
Raimundo Coelho – Nossa primeira parceria no Maranhão foi com o SEBRAE, através do programa MAPITO (Maranhão, Piauí e Tocantins) no qual, durante um ano, trabalhamos com 1.000 propriedades com a prática de assistência técnica e gerencial, e constatamos que houve êxito, com aumento da produção nas propriedades assistidas e também na renda do produtor. Por conta desse trabalho, o Banco Mundial faz uma experiência no Brasil envolvendo cinco estados (incluindo o Maranhão, com 400 propriedades), fazendo uso da nossa metodologia de transferência de tecnologia no campo.
As experiências foram levadas ao conhecimento do governo do Estado que resolveu adotar a ATeG no programa “Mais Produção” que envolve 10 cadeias produtivas prioritárias. A Sagrima (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) destacou cinco delas (arroz, aqüicultura, carne/couro, leite e hortifruticultura) para aplicar a metodologia, como forma de aumentar a produtividade e a rentabilidade das cadeias produtivas relacionadas. Atualmente estamos na fase de relatório do desempenho do programa, mas já adiantamos ao Governo alguns êxitos obtidos, como o da diminuição na importação de produtos da agropecuária e de alimentos que a gente recebe de outros estados.
PMN – Gostaria que o Sr. falasse mais sobre essa diminuição na importação de produtos agropecuários.
Raimundo Coelho – Ao longo do nosso trabalho, constatamos que algumas lavouras do Estado pararam de crescer e abastecer o mercado interno não por problemas nas terras, ou de água e de pessoas, mas por falta de conhecimento técnico. As tecnologias avançaram, as terras empobreceram e por isso é importante usar o conhecimento tecnológico para que se possa estar enriquecendo a terra para que produza cada vez mais naquele mesmo lugar. Essa é a prática da agricultura moderna. Você não fica saindo de um lugar para plantar em outro. O conhecimento faz produzir mais e melhor. Só capacitando as pessoas, a gente já avança. Imagina capacitar e dar a assistência técnica e gerencial! E é isso que está tornando as coisas possíveis. Então, se outro órgão quiser fazer pesquisa nos locais aonde a gente já atuou, vai verificar que houve diminuição na importação de certos produtos hortifrutigranjeiros.
PMN – Em se tratando do Maranhão, como está hoje a situação do agronegócio?
Raimundo Coelho – Primeiro, quero deixar bem claro que o Agronegócio, do nosso ponto de vista, é toda a agricultura, toda a atividade rural que não é de subsistência. Sendo mini, pequeno, médio ou grande, é uma atividade econômica. A gente chama de agricultura de subsistência aquela que não está produzindo para vender para o mercado.
O Maranhão tem um grande potencial e apresenta um bom crescimento do setor a cada ano. No Nordeste, o nosso estado é o segundo maior produtor, o primeiro lugar é da Bahia. No Brasil, é o sétimo colocado. Em 2016, tivemos uma crise econômica e também uma crise de estiagem, com poucas chuvas. A produção caiu cerca de 40%, assim mesmo o Estado teve sua economia sustentada pelo Agronegócio. Um claro sinal que as agroindústrias são estratégicas para o estado. Em 2017, choveu bem e houve crescimento de mais de 100%, sem acréscimo de área, só de produtividade. Quando a meteorologia informa que vai chover, o agricultor investe mais porque tem certeza de retorno. Nesse ano, tivemos recorde de produção. Em 2018, também há essa previsão. O carro-chefe do setor aqui são os grãos e a pecuária, são os dois produtos que mais crescem.
PMN – O que impede um avanço maior desse setor no estado?
Raimundo Coelho – Como eu já disse antes, o SENAR tem feito sua parte que é a capacitação, com a promoção de cursos e o compartilhamento de conhecimento. Mas é preciso relacionar dois fatores para isso. O primeiro, seria a questão fundiária. Recentemente, estivemos reunidos com o pessoal do Iterma (Instituto de Colonização e Terras do Maranhão) para informar que os superintendentes do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste e da Amazônia vinham aqui pedir para mobilizar os produtores rurais fazer uso dos recursos disponíveis no crédito rural (pois o dinheiro estaria a ponto de ser devolvido) e constatamos que a grande barreira estava sendo a regularização das terras, sem essa regularização, não há como o produtor rural ter acesso ao crédito. Muitos têm a unidade produtiva, mas não tem o documento da terra. À medida que aumentar o número de pessoas com o documento oficial de regularização, aumenta a procura pelo crédito rural.
Outra situação é o licenciamento ambiental. Logo no início do governo Flávio Dino tive a oportunidade de mostrar esses “estrangulamentos” a ele. E o que se ver é que o governador é muito interessado pela agricultura, sabe que é setor que responde rápido pelo crescimento econômico do estado. Por isso, entendemos que é preciso uma legislação ambiental que possa simplificar as respostas às demandas dos agricultores, com relação às questões mais simples, como abrir um poço artesiano, açudes e tanques para criação de peixes.
PMN – Como é a atuação da Federação junto ao Sindicato dos Produtores rurais?
Raimundo Coelho – É bom que o público fique sabendo que esse é um sistema que tem como base o território municipal. Nem todos os municípios do estado têm sindicato (sendo que as cidades que não têm, os produtores podem se filiar na localidade mais próxima que tenham a entidade).
Ao longo do tempo, estamos junto aos presidentes dos sindicatos naquelas tarefas e conflitos próprios do setor rural, levando orientação jurídica sobre questões técnicas e burocráticas, fazendo uma conexão entre os produtores rurais e os órgãos oficiais para melhor conduzir uma ocorrência. Quando um assunto é de ordem federal, é encaminhado para tratamento na CNA. Produtor rural, para gente não tem tamanho, é todo aquele que produz e emprega mão-de-obra. Seja uma ou duas pessoas. Empregou mão de obra, produziu uma agricultura que vai para o mercado é um produtor rural.